Um blog de Joaquim Gagliardini Graça

sexta-feira, julho 29, 2005

A inveja e a OTA

Não posso deixar de sentir um provincianismo crónico no texto de Vital Moreira - "O Sindicato de Lisboa".
Vamos por pontos:

1) "é irrelevante a evidência de que o aeroporto da Portela é uma espécie de apeadeiro aeronáutico que desmerece mesmo no confronto com aeroportos regionais europeus"

Não sei por que aeroportos tem andado VM. Como mero exemplo olhe para o aeroporto principal (e único) do Luxemburgo e veja que está a exagerar um bocadinho.
No entanto, mesmo que fosse verdade, porque não se opta pela expansão do aeroporto da Portela, acabando de vez com o aeroporto militar?

2) "De nada vale a demonstração de que ele tem os dias contados, por causa das suas limitações físicas e ambientais (nomeadamente o ruído).Pouco importa a ideia de que o país não pode deixar de ter um aeroporto internacional capaz de responder ao prvisível aumento da procura de transporte aéreo e às modernas exigências aeroportuárias"

Mostre os estudos a que teve acesso pois ninguém os viu. O aeroporto da Portela encontra-se, neste momento, a 50% da sua capacidade de tráfego.
Quanto ao ruído, também gostaria de saber onde foi recolher tal informação.

3)"Primeiro, por maiores que sejam as limitações financeiras, continua a ser ao Estado que cabe assegurar as infra-estruturas básicas, que o mercado e a iniciativa privada não garantem"

Não é, manifestamente, o caso do novo aeroporto da OTA.

4) "segundo, uma das razões para a contenção de gastos públicos correntes tem a ver justamente com a necessidade de libertação de meios para investimento, sem o qual não haverá desenvolvimento, nem emprego, nem alívio das dificuldades financeiras actuais"

A libertação de meios devia servir, em primeiro lugar, para baixar impostos e permitir às nossas empresas crescer e criar emprego. Aqui reside a nossa diferença. VM, partilhando a teoria keynesiana, atribui ao Estado funções que deviam ser, na sua grande maioria, do sector privado.

5) "terceiro, neste caso os meios financeiros necessários podem ser proporcionados em grande parte pelo sector privado, dada a rentabilidade da infra-estrutura.

Qual rentabilidade? Quais privados?
A existir rentabilidade será sempre à custa do encerramento do aeroporto da Portela. Logo, VM defende a criação do monopólio da OTA.
Gostaria muito de saber quem são os investidores privados, em que estudos se baseiam e a quem pertencem os terrenos do futuro aeroporto.

Não existe uma entidade directamente implicada no negócio da aviação, companhia aérea ou prestadora de serviços que seja a favor da OTA, já para não mencionar a larga maioria dos utentes que VM desconsidera por serem de Lisboa.

6) "Portugal é reconhecidamente um país de desenvolvimento assimétrico, com enormes disparidades territoriais, cuja superação carece de "acção positiva" do Estado no plano do investimento público regional. Tal circunstância poderia suscitar críticas contra um investimento público da dimensão do novo aeroporto, inevitavelmente situado próximo de Lisboa, sua principal beneficiária. Essa crítica seria demagógica, visto que neste caso o que está em causa são os interesses do país. Mas ao menos que ele não seja enjeitado em função do interesse paroquial de Lisboa em manter um aeroporto doméstico."

Como VM bem sabe Lisboa é a única cidade do país com expressão mundial. É a região mais desenvolvida, que mais produz e a única contribuinte líquida para todas as outras. Não é de agora. Concordo consigo quando diz que somos um país assimétrico, só não acho que isso seja necessariamente mau.

Não consigo compreender como um aeroporto a 50 Km de Lisboa irá beneficiar o país. As assimetrias não irão desaparecer.
Sendo, como afirma, Lisboa a principal beneficiária do novo aeroporto, não lhe causa perplexidade que esta não o queira?

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