Um blog de Joaquim Gagliardini Graça

quinta-feira, julho 14, 2005

Speed Dating

A alteração dos estilos de vida urbanos tem vindo a favorecer o aparecimento de verdadeiras aberrações sociais. A última a aparecer por cá é o speed dating. Basicamente, este consiste na organização de um evento em que é dada a possibilidade a um determinado número de pessoas, identificadas através de um cartão com um número, de se encontrarem cara a cara durante três minutos. No final do evento cada participante entrega uma lista com as suas preferências à organização, que posteriormmente fará os cruzamentos, enviando por e-mail os resultados apurados e o contacto daqueles em que houve interesse mútuo.
A progressiva e cada vez maior impessoalidade da cidades, através do desaparecimento da vida de bairro, dos cafés, associações culturais e zonas de interacção social favorece este tipo de iniciativas.
Sou do tempo em que era normal conhecer os vizinhos, donos de lojas e pessoas que viviam no meu bairro. Muitos deles são, ainda hoje, meus amigos. Tínhamos orgulho na nossa rua, no nosso bairro e vibrávamos com as vitórias e derrotas dos clubes locais. Era assim em quase toda a cidade de Lisboa. Apesar da identidade alfacinha que nos unia, Lisboa era constituída por pequenas cidades-bairro com vida própria.
Salvo raras excepções, em especial nos bairros mais antigos, estas pequenas ilhas desapareceram do mapa. O trabalho, a falta de dinheiro, a poluição, a falta espaços de convívio, jardins, parques, a insegurança e a especulação imobiliária são os grandes causadores desta cidade impessoal. Hoje as pessoas que ainda habitam em Lisboa convivem (quando o fazem), na sua grande maioria, em centros comerciais e em duas ou três zonas como o Bairro Alto/Chiado.
É difícil conhecer alguém em bairros onde não existem espaços abertos. A solidão torna-se um hábito de vida (em especial para os mais velhos) e a rotina casa-trabalho-casa ocupa a vivência de Domingo a Sexta-Feira. As pessoas preferem o conforto das casas, a televisão, a internet e o telefone ao convívio pessoal.
Por tudo isto prefiro viver numa vila à beira-mar onde conheço toda a gente, onde as pessoas ainda saem das suas casas e o ar da maresia contrasta com o ambiente, por vezes irrespirável, de Lisboa.

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