Um blog de Joaquim Gagliardini Graça

sexta-feira, julho 09, 2004

O dia da decisão

AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHRRRRRRRRRRRRRRRGGGGGGGGGGGGGGGGGG!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
O dia começa como todos os outros.
Apesar de estar casado há muitos anos Lampadinha não consegue deixar de se assustar sempre que acorda e vê o seu companheiro, Zé Rita, babando-se ao seu lado com aquele bafo ternurento da manhã.
O segurança entra como de costume e acalma Lampadinha com umas palmadinhas nas costas e um copo de água com açucar.
Já refeito do susto levanta-se energicamente e procura comunicar com o segurança:

- Olá jovem amigo!
- Bom dia Sr. Presidente.
- Oiça lá, você tem algo para fazer esta manhã?
- Além de o proteger...não tenho nada programado Sr. Presidente.
- Pois. Está muito bem. Então faça-me o obséquio de aparecer na sala oval do Palácio daqui a meia-hora.
- Sala oval Sr. Presidente?
- Sim, aquela onde eu costumo trabalhar. Gosto da sala porque o Zé não consegue lá entrar. A porta é baixa e estreitinha.
- Com certeza Sr. Presidente.

Lampadinha prossegue o seu dia tratando da higiene matinal nos seus aposentos enquanto Zé Rita se banha abundantemente na fonte do Palácio.
À primeira vista trata-se de um dia igual aos outros, uma agradável rotina a que já se habituaram os habitantes e turistas da zona.
O Presidente acena aos simpáticos mirones enquanto Zé Rita se seca com um páraquedas.
No entanto, este não é um dia qualquer!
Semanas após a demissão do Primeiro-Ministro, Lampadinha vai ter finalmente que resolver a crise política em que lançou o país após tanta indecisão.
Após ter auscultado os 10 milhões de portugueses, um a um, faltam apenas os funcionários do Palácio.
Lampadinha guardava-os como um trunfo para prorrogar a sua decisão por mais umas semanas (até ir de férias) mas uma branda e civilizada troca de impressões com Zé Rita na noite anterior obrigou-o a acelerar o processo.
- Ouve lá ó Jorge, ou decides amanhã ou levas um murro na cabeça que passas o resto do mandato dentro dos sapatos!
Foi a última frase que se ouviu no Palácio naquela noite...
A decisão já estava tomada há muito na cabeça do Presidente.
No entanto, a importância que este atribui a si próprio e à figura do chefe de estado obrigaram-no a prorrogar a sua comunicação até ao derradeiro ultimato.
Como em tudo, Lampadinha sabia que nada podia fazer pois o seu cargo não lhe atribui competência para nada a não ser dar medalhas a vencidos e proporcionar jantares no Palácio (que é uma pena ficar desocupado).
Feitas as últimas consultas (tendo o pitbull de Zé Rita - Àtila - sido incluído) decide finalmente comunicar ao país o resultado de tão longa reflexão.
Sentado à sua secretária com Zé Rita envolto numa bandeira nacional como pano de fundo, comunica por todos os media paralisando um país já de si parado:

"Portuguesas e portugueses, boa noite.
Como certamente terão compreendido o país mergulhou numa profunda crise desde que o Dr. Durão Barroso resolveu aceitar o prestigioso cargo de Presidente da Comissão Europeia e me apresentou a sua demissão como Primeiro-Ministro de Portugal.
Quero deixar bem claro que compreendo a importância e relevância de tal função para um pequeno país como o nosso e aproveito a ocasião para, uma vez mais, felicitar o Dr. Durão Barroso pelo sucedido.
No entanto, esta situação obrigou a uma profunda alteração no quadro da legislatura em vigor pelo que chamei a mim, pelas funções que me são atribuídas pela Constituição de Portugal e para as quais fui eleito pela esmagadora maioria de vós, a responsabilidade de optar pela convocação de eleições antecipadas ou nomear um novo Primeiro-Ministro proposto pela coligação que detém a maioria dos votos na Assembleia da República.
Não foi uma escolha fácil e tenho a convicção que esta é a mais grave decisão que tomarei ao longo dos meus dois mandatos como Presidente da República. Pautando-me sempre pelo princípio da estabilidade, procurei encontrar a solução que melhor sirva os interesses do país.
Após um período em que reflecti e auscultei os mais diversos quadrantes da sociedade portuguesa , período este que considerei e considero absolutamente necessário para uma tomada de decisão reflectida, ponderada e racional, cheguei a uma conclusão que agora vos comunico.
Assim, é minha profunda convicção optar pela prossecução da actual legislatura, pelo que irei nomear como Primeiro-Ministro a figura que me vier a ser indicada pelos partidos da maioria.
A todos os que aguardaram pacientemente agradeço a confiança depositada em mim.
Muito obrigado.
E viva Portugal!"

Tenho dito.

Sem comentários: