As análises de Vital Moreira (VM) reflectem, cada vez mais, uma parcialidade exacerbada. Não se pode pedir imparcialidade pois o marcar de uma posição é a génese do processo opinativo. Pode-se, no entanto, exigir honestidade intelectual, sendo que neste post, a ausência é notória.
Começa VM por referir que as armas nucleares são imorais e ilegais. A ilegalidade destas é pouco relevante para a minha análise, além de que não tenho a pretensão de discutir leis com quem faz delas a sua vida.
Já em relação à imoralidade o assunto é outro. Discuto a moralidade de qualquer arma, seja nuclear, química, biológica ou convencional.
As armas nucleares serviram para acabar com uma guerra. Também foram utilizadas como um meio de assegurar a paz durante quarenta anos de guerra fria (pelo menos no que respeita ao confronto directo entre as duas maiores potências mundiais da altura).
Visto que os Estados que assinaram o Tratado De Não-Proliferação Nuclear em 1970 nunca o cumpriram devido à guerra fria, compreende-se que, com o desaparecimento da mesma e mantendo-se os pressupostos originais, houvesse realmente condições para se avançar para a sua concretização. Há cinco anos foi, finalmente, possível alcançar um compromisso e Kofi Annan rejubilou.
Em Abril deste ano terá lugar a Conferência de Estados Parte para Revisão do Tratado. Diz VM que o panorama é assustadoramente diferente. Concordo. Onde não concordo é na parte em que acha que a proliferação de armas nucleares em Estados terroristas e ditaduras, nomeadamente os casos do Irão e da Coreia do Norte, seja apenas culpa dos Estados Unidos ou, como diz “dos Estados Unidos e outros Estados...” nunca especificando quem são os outros. É que o problema, como sabe e não admite VM, está nesses "outros Estados", nomeadamente num ali para os lados do Leste, que assinou o Tratado mas que não tem meios para garantir a segurança das suas instalações e segredos nucleares. Também outros Estados que nunca assinaram o Tratado contribuem para o tráfico de informação e material nuclear. Culpe-se também a Internet pela facilidade e velocidade com que a informação hoje viaja.
Todos sabemos que há ditaduras e estados que apoiam o terrorismo que estão em vias de possuir (se não as possuem já) armas nucleares. Também não é difícil compreender que não é através de negociações que se vai impedir que as obtenham. A demagogia de uma certa Europa em relação ao processo de negociação com terroristas e ditadores não deixa de ser a principal causa para a perda de credibilidade desta e, consequentemente, da ONU. Também sabemos que a grande fatia da luta no terreno contra o tráfico de informação e material que permita a construção de armas nucleares é feita pelos Estados Unidos. Também no plano das negociações, é visível o esforço inglório dos americanos no caso da Coreia do Norte em que milhões de dólares e muita ajuda humanitária não foram suficientes para travar a fúria belicista do regime.
É muito difícil, para não dizer impossível, impedir a proliferação de armas nucleares. As potências que assinaram o Tratado sabem-no melhor que ninguém. Sonha VM com esforços multilaterais, resoluções da ONU e eliminação de stocks de urânio enriquecido, entre outros. Também eu sonho com o dia em que o mal acabe e que não sejam necessárias armas de qualquer espécie. Não posso, no entanto, viver em função desse sonho pois sei que nunca se irá concretizar. Veja-se a vontade, transmitida pela Rússia a Donald Rumsfeld, de abandonar o INF (tratado sobre Forças Nucleares de Alcance Intermédio)em Janeiro último. Apesar de ter voltado atrás, a intenção estava lá. Nesta conjuntura, abdicar das armas nucleares não é um objectivo plausível.
Reconheço a tristeza da situação, mas será um suicídio pensar o contrário.
Um blog de Joaquim Gagliardini Graça
quinta-feira, março 10, 2005
Para um mundo melhor
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