Confesso que fiquei desapontado com a entrevista feita por Judite de Sousa a Manuela Ferreira Leite. Falhou a entrevistadora, demasiado "soft", dando por vezes a ideia que a relação estabelecida entre ambas era a de aluna e professora. Desapontou a entrevistada em muitas das respostas que deu.
O discurso de perseguição aos políticos era dispensável e retirou-lhe, na minha opinião, alguma credibilidade. O problema da qualidade dos políticos passa por vários pontos, desde o vencimento e respectivos benefícios à noção de serviço público. A decisão de servir o país comporta algo mais que a simples (importante, é certo) questão monetária. Os políticos de topo, com provas dadas no sector privado, ganham sempre menos no sector público. No entanto, têm outro tipo de compensações, inexistentes no sector privado. As reformas, subvenções, mordomias, km's pagos, cartões de crédito e despesas de representação são incentivos financeiros, remunerações disfarçadas para enganar o "povo" invejoso que considera todos os políticos ladrões e não tolera vencimentos ao nível do sector privado. As declarações de Manuela Ferreira Leite, ao queixar-se do dinheiro que perdeu por não estar no sector privado revestiram-se de mau gosto, deixando transparecer algum azedume. Se algum favor nos fez, ela e todos os outros, foi por sua livre vontade. Se foi pela nobre arte de servir a causa pública, nunca se poderia queixar do que não recebeu.
O problema das pessoas que passam demasiado tempo na política é que não a encaram como uma passagem na carreira, dedicada ao serviço da causa pública. Como tal, a noção de servir conta pouco nos dias que correm. É claro que há excepções, mas a regra é esta.
Além do factor monetário e da recompensa pessoal e pública de servir, existem muitos outros aliciantes. A oportunidade de mostrar serviço ganha, na maior parte dos casos, uma dimensão exponencial. A experiência da governação, quer a nível nacional quer local é um factor de peso no cúrriculo pessoal. Alie-se a tudo isto uma rede de contactos e conhecimentos de alto nível que mais tarde servirão para potenciar a carreira no sector privado.
Estou de acordo que se podia e devia pagar mais na política, acabando-se com os esquemas acessórios. Houvesse vontade para se cortar no número excessivo de ministérios, deputados, assessores, consultores e todo um conjunto de funcionários necessários a manter a enorme máquina e seria fácil aumentar os vencimentos.
Por fim, não estará na hora de os empresários de sucesso deste país, bem na vida e com tempo para criarem grupos e conferências, se entregarem à causa pública?
Um blog de Joaquim Gagliardini Graça
sexta-feira, junho 17, 2005
Grande Entrevista I
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