Leio hoje, em vários jornais, mais um estudo do LNEC sobre a velocidade média praticada pelos condutores portugueses nas diversas estradas. Nos IP e IC a velocidade média dos ligeiros subiu de 94Km/h para 105 Km/h (acima do máximo permitido por lei). No caso dos pesados esta é de 94 Km/h, claramente acima dos limites de velocidade que poderão ser de 70 ou 80 Km/h, conforme o tipo de veículo. Já nas cidades, a velocidade média dos condutores é de 63 Km/h, ou seja, 13 Km/h acima dos limites legais, sendo que 78% dos veículos circulam em excesso de velocidade.
Fazendo uma análise simples destes números e da conjuntura presente podemos chegar a algumas conclusões:
1) os limites de velocidade mantêm-se (em alguns casos como nas cidades e povoações diminuíram) desde o tempo do Salazar. As estradas e os todos os veículos que nelas circulam melhoraram significativamente. Isto não quer dizer que não tenhamos más estradas ou auto-estradas. A A8 é um belo exemplo do que não deve ser feito. O IP4 e o IP5, igualmente perigosos, passam também por uma questão de prudência. Cumpram-se os limites e todas as indicações e o perigo é relativo.
2) Vivemos neste país com a forte convicção que a maior parte dos acidentes de deve ao consumo de alcoól ou ao excesso de velocidade, passando-se ao lado do que verdadeiramente interessa: a falta de educação e civismo de quem guia. Começa nas escolas primárias e pouco ou nada tem sido feito. As cenas de pancadaria no trânsito e o comportamento símio de muitos que se sentam ao volante é reflexo de uma educação pobre ou inexistente. Não há nada que afecte mais o automobilista português que ser ultrapassado. Parece que levou uma facada no coração. É a humilhação suprema perante a mulher e os filhos ou perante ele próprio. Muitos resistem heroicamente na faixa da esquerda pensando para si: "aguenta, qu'eu tamém aguentei nove meses pa nacer".
3) Enquanto não perceberem que os limites legais de velocidade nas estradas estão completamente desajustados da realidade a situação não vai mudar. Eu, tal como 80% dos portugueses, não cumpro os limites de velocidade. Acho-os estúpidos e desajustados da realidade. Não me vão convencer a andar a 50 Km/h no Campo Grande da mesma maneira que não me convencem a andar a 120 Km/h nas auto-estradas. São limites que estão demasiado longe da realidade para que possamos cumpri-los.
4)A velocidade a que se circula deverá ter em conta diversos factores tais como as condições dos veículos, das estradas, meteorológicas, a experiência, o talento e o estado físico e mental de quem conduz. Muitas vezes circula-se em excesso de velocidade estando-se abaixo dos limites legais.
5) As escolas de condução cumprem um mau serviço. Ensinam mal e, principalmente, ensinam pouco. Não ensinam os futuros condutores a guiar em más condições atmosféricas, a medir distâncias numa ultrapassagem ou a controlar os veículos em situações limite ou de emergência. No entanto, chumbam quem não souber arrumar um carro à primeira. Isso sim, é importante.
6) As autoridades também não ajudam. Em lugar da lógica preventiva continuam a preferir a repressiva. O espírito do geninho escondido atrás da moita, cheio de radares ou com carros disfarçados numa de apanhar (à porco) o criminoso condutor que vai a 53 Km/h numa via de 3 faixas, melhor que muitas auto-estradas deste país. Tratassem de se apresentar bem visíveis nas estradas e locais potencialmente mais perigosos e veriam resultados bem mais satisfatórios.
7) Em relação ao alcool, concordo com todas as acções preventivas e repressivas. É uma das causas principais e não se pode mesmo facilitar. E acho que as penas deveriam mesmo ser mais radicais. Ou isso ou então criar cursos de condução para pessoas embriagadas. Acreditem que esgotavam as matrículas.
Um blog de Joaquim Gagliardini Graça
quarta-feira, novembro 10, 2004
Ainda a velocidade...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário