Um blog de Joaquim Gagliardini Graça

quarta-feira, novembro 10, 2004

Ainda a velocidade...

Leio hoje, em vários jornais, mais um estudo do LNEC sobre a velocidade média praticada pelos condutores portugueses nas diversas estradas. Nos IP e IC a velocidade média dos ligeiros subiu de 94Km/h para 105 Km/h (acima do máximo permitido por lei). No caso dos pesados esta é de 94 Km/h, claramente acima dos limites de velocidade que poderão ser de 70 ou 80 Km/h, conforme o tipo de veículo. Já nas cidades, a velocidade média dos condutores é de 63 Km/h, ou seja, 13 Km/h acima dos limites legais, sendo que 78% dos veículos circulam em excesso de velocidade.

Fazendo uma análise simples destes números e da conjuntura presente podemos chegar a algumas conclusões:

1) os limites de velocidade mantêm-se (em alguns casos como nas cidades e povoações diminuíram) desde o tempo do Salazar. As estradas e os todos os veículos que nelas circulam melhoraram significativamente. Isto não quer dizer que não tenhamos más estradas ou auto-estradas. A A8 é um belo exemplo do que não deve ser feito. O IP4 e o IP5, igualmente perigosos, passam também por uma questão de prudência. Cumpram-se os limites e todas as indicações e o perigo é relativo.

2) Vivemos neste país com a forte convicção que a maior parte dos acidentes de deve ao consumo de alcoól ou ao excesso de velocidade, passando-se ao lado do que verdadeiramente interessa: a falta de educação e civismo de quem guia. Começa nas escolas primárias e pouco ou nada tem sido feito. As cenas de pancadaria no trânsito e o comportamento símio de muitos que se sentam ao volante é reflexo de uma educação pobre ou inexistente. Não há nada que afecte mais o automobilista português que ser ultrapassado. Parece que levou uma facada no coração. É a humilhação suprema perante a mulher e os filhos ou perante ele próprio. Muitos resistem heroicamente na faixa da esquerda pensando para si: "aguenta, qu'eu tamém aguentei nove meses pa nacer".

3) Enquanto não perceberem que os limites legais de velocidade nas estradas estão completamente desajustados da realidade a situação não vai mudar. Eu, tal como 80% dos portugueses, não cumpro os limites de velocidade. Acho-os estúpidos e desajustados da realidade. Não me vão convencer a andar a 50 Km/h no Campo Grande da mesma maneira que não me convencem a andar a 120 Km/h nas auto-estradas. São limites que estão demasiado longe da realidade para que possamos cumpri-los.

4)A velocidade a que se circula deverá ter em conta diversos factores tais como as condições dos veículos, das estradas, meteorológicas, a experiência, o talento e o estado físico e mental de quem conduz. Muitas vezes circula-se em excesso de velocidade estando-se abaixo dos limites legais.

5) As escolas de condução cumprem um mau serviço. Ensinam mal e, principalmente, ensinam pouco. Não ensinam os futuros condutores a guiar em más condições atmosféricas, a medir distâncias numa ultrapassagem ou a controlar os veículos em situações limite ou de emergência. No entanto, chumbam quem não souber arrumar um carro à primeira. Isso sim, é importante.

6) As autoridades também não ajudam. Em lugar da lógica preventiva continuam a preferir a repressiva. O espírito do geninho escondido atrás da moita, cheio de radares ou com carros disfarçados numa de apanhar (à porco) o criminoso condutor que vai a 53 Km/h numa via de 3 faixas, melhor que muitas auto-estradas deste país. Tratassem de se apresentar bem visíveis nas estradas e locais potencialmente mais perigosos e veriam resultados bem mais satisfatórios.

7) Em relação ao alcool, concordo com todas as acções preventivas e repressivas. É uma das causas principais e não se pode mesmo facilitar. E acho que as penas deveriam mesmo ser mais radicais. Ou isso ou então criar cursos de condução para pessoas embriagadas. Acreditem que esgotavam as matrículas.

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