Um blog de Joaquim Gagliardini Graça

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Lugares comuns

No meio desta crise financeira e económica, a expansão do investimento público tem surgido como a solução milagrosa que servirá para evitar males maiores, restaurar a confiança perdida e reanimar o tão necessário consumo.
É o que Obama pretende fazer com o gigantesco pacote proposto e o que Socrates, à sua dimensão, irá tentar fazer, abdicando do controlo do défice com que tanto sacrificou o país.
Aplicar a teoria keynesiana nos dias que correm não irá dar resultado e a explicação é fácil.
Keynes achava que o consumo cresceria imediatamente assim que as pessoas tivessem dinheiro no bolso, o que por sua vez faria com que os empresários investissem na produção e, consequentemente, criassem emprego.
Ora o que sem tem vindo a observar é que, em plena crise, as pessoas preferem poupar ou pagar as suas dívidas a consumir. Em Dezembro, as taxas de poupança nos EUA foram as mais altas dos últimos seis anos e o investimento em habitação baixou significativamente. Nada indica que em Portugal e na Europa venha a ocorrer o oposto.
Outro erro tem sido a ajuda dada, quer através de avais ou de injecções directas de capital, aos bancos (os grandes causadores da crise). Ao invés de concretizarem o propósito de voltar a emprestar dinheiro às empresas e pessoas, têm dificultado ainda mais o acesso ao crédito e aumentado substancialmente os spreads aos poucos que ainda o conseguem.
O que torna a coisa complicada é que tudo isto parece natural e deveria ter sido esperado. Quando impera um clima de medo e incerteza, a banca prefere ficar com o capital a correr riscos desnecessários. Foi exactamente o que se depreendeu de mais uma entrevista institucional e sem substância feita ontem por Judite de Sousa a Ricardo Salgado. Meia dúzia de lugares comuns, palavras elogiosas ao Governo e à oposição e a certeza que a saída para a crise não passa pela banca.
A solução estrutural passará, inevitavelmente, pelo controlo da despesa e pela baixa de impostos. Gastar muito dinheiro no presente significará uma pequena melhoria no curto prazo mas compromete gravemente o médio e longo prazos. Serão as gerações futuras a pagar este endividamento brutal e a lidar com a inflação galopante que irá gerar.

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