Um blog de Joaquim Gagliardini Graça

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Nos seus lugares

Quando o Estatuto dos Açores foi aprovado pela primeira vez, o facto de Cavaco Silva não ter solicitado a fiscalização preventiva do Tribunal Constitucional só muito ingenuamente poderá ser considerado um erro.
Afinal, tratava-se de uma oportunidade única de testar o verdadeiro alcance da "cooperação estratégica" num assunto de importância quase nula e perante uma conjuntura que se adivinhava já muito difícil, se não para muitos, pelo menos para um economista atento. Para a ocasião ser ainda mais perfeita, todos os envolvidos no processo sabiam que os dois polémicos artigos acabariam por ser chumbados pelo Tribunal Constitucional, como decerto irá acontecer.
Num acto contrário à discrição que caracterizou o seu mandato até Agosto, deu-se ao trabalho de aborrecer o país com um discurso digno do seu antecessor, um texto chato, longo e despido de conteúdo feito apenas com o intuito de marcar posição e atrair o adversário para a luta.
Sócrates mordeu o isco e caíu na armadilha, demonstrando a teimosia de asno que se lhe conhece e perdendo um aliado imprescindível nas lutas que se avizinham no próximo ano.
No lado oposto, Cavaco libertou-se da "cooperação estratégica" que usou para ser eleito sem ficar com o ónus da responsabilidade na disputa, ganhando um espaço que poderá revelar-se decisivo se optar por tomar um papel mais interventivo no plano político.
Se a renovação da maioria absoluta do PS já parecia difícil, Cavaco tem agora a faca e o queijo na mão para certificar a sua impossibilidade.

2 comentários:

Anónimo disse...

Certíssimo.
P.C.

Anónimo disse...

Apre! Com esta prosa, qualquer dia estás a escrever para "O Espesso". Feliz ano novo.